Já na contracapa, o novo LP de Zé Ramalho, "A Terceira Lâmina", mostra o sinistro cogumelo de uma bomba atômica em explosão. "E uma advertência", explica o cantor e compositor paraibano. Ele acredita que a III Guerra Mundial está por chegar, e teme que os testes nucleares da Usina de Angra dos Reis acabem com "O restinho de mato que tem no nordeste". E por isso mesmo que, na maioria das onze faixas do LP, Ramalho prossegue em sua obsessão cóm as imagens apocalípticas, com o non-sense bombástico presente em seus dois LPs anteriores. "Pode ser que ninguém me compreenda", admite ele em "Canção Agalopada".
Suas imagens são confusas, fragmentadas, mas ele as transmite com tanta determinação que acaba convencendo o ouvinte de seu sentido poético. "Eu não sou um grande cantor", confessa. "Prefiro recitar as letras. Os poucos fios melódicos apenas conduzem minhas imagens."
Mas, por difícil que seja a assimilação de suas canções, "A Terceira Lâmina" se impõe como um produto original de um artista extremamente peculiar. E interessante o modo como ele encarna, ao mesmo tempo, o cantador do sertão nordestino e o visionário iconoclasta da cidade. Sua música surpreende de maneira agradável, como, por exemplo, na faixa "Filhos de ícaro", quando .a voz de Zé Ramalho é acompanhada por cuíca, tamborim e reco-reco. Um ótimo achado para uma canção mais adequada a violeiros que ao ritmo de uma bateria de escola de samba.
Suas imagens são confusas, fragmentadas, mas ele as transmite com tanta determinação que acaba convencendo o ouvinte de seu sentido poético. "Eu não sou um grande cantor", confessa. "Prefiro recitar as letras. Os poucos fios melódicos apenas conduzem minhas imagens."
Artur Xexéo
Revista Veja 18 de Março de 1981
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