Místico, enigmático e apocalíptico, o cantor e compositor Zé Ramalho, é um dos poucos paraibanos que alçaram voos altos, divulgando a essência do Nordeste nos cantos mais longínquos do país. A música de Zé Ramalho é uma verdadeira miscigenação de
ritmos e brasilidade, evocando os espíritos
dylanianos gonzagueanos e raulseixistas, além de uma forte mistura da Literatura de Cordel, dos violeiros nordestinos, do blues e do rock.Nascido no sopé da Pedra de Turmalina em Brejo do Cruz, no Sertão Paraibano de Brejo do Cruz, o poeta visionário Zé Ramalho se transformou em uma expressão viva da cultura nordestina que consegue envolver o público com seu "vozeirão" e suas letras "proféticas". Só que a cidade onde nasceu o herdeiro do "Avohai", ainda não despertou para a importância de preservar a memória de um de seus ícones. A população de Brejo do Cruz, uma cidade pequena, com pouco mais de 13 mil habitantes, desconhece a história do lugar e de seus artistas. Prova disso é que há anos um fotógrafo luta para conseguir um espaço adequado para guardar a segunda maior coleção da história de Zé Ramalho. A coleção contando a vida e a obra do cantor, está se perdendo justamente por falta de um museu que guarde para a posteridade a memória do artista.
O acervo pertence ao pesquisador e fotógrafo Aurilio Santos. Com mais de 500 peças distribuídas em revistas, jornais, documentos, cartazes, clipes, shows, livros, roupas, objetos pessoais, entrevistas, folder, discografia em vinil, cordéis, pôster, fotografias antigas, DVDs e CDs, além de outros materiais pessoais que marcaram toda a trajetória de Zé, o acervo ainda não foi descoberto pelo poder público do município. Todo material encontra-se dentro de caixas de papelão, em situação degradante, exposto a traças e a cupins, sem levar em consideração a temperatura do ambiente. O acervo, conforme observou Aurílio está numa casa que também não oferece condições de segurança, e a qualquer momento esse material pode ser roubado. "É precisoque este material fique num espaço com segurança antes que seja tarde demais", observou Aurílio Santos.
O fotógrafo que acompanha a carreira de Zé Ramalho há mais de 20 anos sonha com o dia em que enfim, será disponibilizado um espaço para ele guardar os fragmentos históricos do mais ilustre filho de Brejo do Cruz. Ao longo desse tempo, Aurílio conseguiu catalogar esse vasto material que conta toda a trajetória do artista desde a sua família, passando pela carreira, relação com fãs e amigos até a sua consagração no Rio de Janeiro. Só CDs são 150, sem contar os 5 DVDs gravados pelo cantor, entre outras obras fonográficas.
Aurílio teme que com um tempo, o material se perca. A maior preocupação do idealizador da coleção é com o acervo fotográfico. "Estou preocupado com a preservação do acervo, pois tenho dificuldades financeiras para pagar o aluguel da casa onde está guardado este patrimônio", diz. Segundo ele, muitas fotografias precisam ser emolduradas, os documentos serem posto em pastas de plásticos e outros. "Até o momento as autoridades locais do município de Brejo do Cruz desconhecem o potencial deste patrimônio cultural que será de grande importância para as futuras gerações" diz.
Há anos o fotógrafo luta para ver se consegue pelo menos uma sala em Brejo do Cruz para guardar a obra. O material catalogado por Aurílio guarda mesmo os fragmentos do homem do "Avohai". Ele reúne por exemplo fotos revelando detalhes e particularidades de Zé Ramalho com a familia. Aurílio Santos já teve vários momentos com Zé Ramalho principalmente em shows, e mostrou a ele parte do material. Zé não escondeu o desejo de ver a obra em museu. A dedicação ao autor de Chão de Giz, Vida de Gado, lhe rendeu um livro de cordel Aurílio Santos O olhar criador, Zé Ramalho o ancestral da palavra escrito pelo poeta Manoel Monteiro (Editora Gráfica Real) .
Patrimônio valoriza o artista paraibano.
O fotógrafo e pesquisador Aurilio Santos revelou que construiu a coleção como forma de manter viva a obra musical de Zé Ramalho. Brejo do Cruz, segundo ele, poderia valorizar mais o artista renomado criando um espaço onde se trata de reunir a trajetória e a história do filho ilustre Zé Ramalho. "Certamente despertaria maiores interesses no aspecto do turismo da cidade e da região" diz.
Lutar pela memória do compositor e cantor Zé Ramalho, tem sido um dos motivos que me impulsionou Aurílio Santos, em preservar e pesquisar tudo que se fala do músico e compositor Zé Ramalho. Aurílio conta que se eu tivesse condições alugaria uma casa e transformaria num Museu Zé Ramalho Vida e Obra, para que esse material fosse de fato preservado em condições adequado.
Desde 1998 ele vem catando e adquirindo tudo o que se diz e se fala deste poeta nascido em Brejo do Cruz. "O próprio artista tem me presenteado para acrescentar ao acervo. Aurílio acredita que este acervo pode ser o segundo maior sobre o artista Zé Ramalho". O primeiro está não mãos do Rivanildo Alexandrino, residente em Frutuoso Gomes, do Rio Grande do Norte. O acervo tem raridades que o próprio artista não o tem, é de grande importância para nós ter isto. Gratifica-nos".
O acervo tem um grande valor histórico já que os documentos bibliográficos mostram a trajetória artística do cantor e compositor Zé Ramalho de reconhecimentos, nacional por suas canções apocalípticas e sonoridade sertaneja. Toda a homenagem é pouca para que a memória do poeta visionário Zé Ramalho não se apague nas gerações futuras. e saibam que tanto devem a gente pesquisadores e fãs.
O fotógrafo Aurílio Santos é paraibano de Brejo do Cruz e ainda resiste lá, onde registra a infância dos meninos do Sertão. Sempre manifestou interesse pela obra do conterrâneo Zé Ramalho e pela arte fotográfica. Além de participar de várias exposições coletivas, o fotógrafo realizou diversas individuais em diversos lugares na Paraíba e em outros estados do pais. No seu trabalho, Aurilio Santos tem sempre mostradoa preocupação em evidenciar elementos da paisagem e cultura regionais. Ele é o autor de fotos do CD Paisagem de Interior de Jessier Quirino. E recentemente citado no livro Zé Ramalho o profeta do terceiro milênio, O Apolo da Caatinga de Isaac Soares de Sousa. Jornalista de São Carlos, São Paulo.
Diario da Borborema em 25/01/2011
Severino Lopes
Foto: Zé Ramalho e Aurílio Santos, Acervo Pessoal/Divulgação/D.A Press
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