quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Paêbirú vai Virar documentário!!!


"A história do disco mais caro do Brasil, valendo até R$ 5 mil, é investigada em documentário"
RIO - Inscrições rupestres misteriosas, mitos indígenas, boas doses de psicodelia, uma busca para reconstruir as obscuras origens de uma lenda da música brasileira... O roteiro tem elementos que parecem moldados para a ficção, algo como um Indiana Jones lisérgico. Mas “Nas paredes da pedra encantada”, filme de Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim, é um documentário — um “road doc”, como define Cristiano — que investiga a história do raríssimo disco “Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol”, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, lançado em 1975.

— Há vários motivos para se falar de “Paêbirú” — defende Cristiano. — É o disco mais caro do Brasil, sua última cotação está entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, o dobro do “Louco por você”, o primeiro de Roberto Carlos >ita<(existe uma edição pirata, em vinil, de “Paêbirú”, lançada na Europa, mas que não vem com o livro que acompanhava o original, trazendo estudos sobre a região e informações sobre a lenda do Caminho da Montanha do Sol). Mais que a raridade, ele é o fundador de uma psicodelia genuinamente brasileira, com elementos da cultura indígena. E sua história tem toda uma mística. Das únicas 1.300 cópias da prensagem original, 1.000 foram perdidas numa enchente em Recife. Nunca vi uma história tão fantástica como a que circunda esse álbum.

Jornalista, Cristiano tomou contato com a fantástica história quando fez uma reportagem para a revista “Rolling Stone” sobre o disco. Quando percebeu que sua apuração poderia render um documentário, se lançou com Leonardo Bonfim na aventura de tentar reconstituir os fatores que permitiram o surgimento do álbum. O termo “aventura” não é exagero. Cristiano morou entre Pernambuco e Paraíba por três meses, investiu dinheiro do seu bolso no filme — atualmente em fase de montagem — e penou para encontrar seus personagens. Mais que isso, quase foi preso durante as filmagens:

— Estávamos na cidade do Ingá do Bacamarte (município da Paraíba onde se localiza a Pedra do Ingá, onde estavam as inscrições que serviram de estopim para o processo criativo que gerou o disco) quando a polícia nos abordou, com vários carros e armas apontadas para nós. Estava havendo uma onda de assaltos a bancos na região, e eles, vendo aquele grupo andando de um lado para o outro e fazendo ligações, acharam que éramos ladrões. Tivemos que ser libertados pelo prefeito, que já sabia do projeto e inclusive colaborou com dinheiro para as filmagens.

O filme — ao qual O GLOBO teve acesso exclusivo — traz entrevistas com personagens como os músicos Lula Côrtes e Alceu Valença (que toca no disco), o arqueólogo Raul Córdula (que apresentou a Pedra do Ingá a Lula e a Zé Ramalho) e a cineasta Kátia Mesel (companheira de Lula então e sócia dele no selo Abrakadabra, que lançou o disco). As gravações registram muitos momentos musicais espontâneos e até cenas que reforçam as lendas em torno do disco.
— Cada lado do álbum duplo de “Paêbirú” tem um conceito: fogo, terra, ar e água. Cada um tem uma sonoridade. Fogo é o lado mais roqueiro, ar são músicas mais etéreas... No lado da água, tem uma parte que faz louvações a Iemanjá. No filme, quando Kátia Mesel canta isso, começa a chover — narra Cristiano, que alimenta mais um tanto a mística ao dedicar o filme ao deus Sumé (parte da mitologia de “Paêbirú”).

Zé Ramalho — que até hoje visita a Pedra e acredita que extraterrestres estão por trás de suas inscrições — não dá depoimento para o filme. Mas autorizou os diretores a usar todas as músicas para contar a história.

— Existe uma rusga entre Zé e Lula, e Zé preferiu não falar sobre o álbum. Mas todos no filme falam dele com muito carinho — nota Cristiano. — Apesar de negar a entrevista, Zé foi muito gente fina, fez um documento liberando a música... Só não queria ter a imagem dele hoje no filme. Ele pergunta por que não falaram do disco quando ele foi lançado (o álbum foi completamente ignorado na época). Aquilo foi muito decepcionante. Além de tudo, Zé Ramalho considera a obra que ele fez solo, posteriormente, muito mais importante. Como o disco tinha um aspecto coletivo, ele ali não tem o peso de ser o portador da mensagem, é só mais uma das vozes.

Mesmo antes da finalização, os diretores já receberam convites para apresentar o filme em festivais.

— Nosso desejo é estrear no “É tudo verdade” — diz Cristiano. — Seria ótimo também ter a exibição na TV, num espaço como o Canal Brasil.

Eles contam com a força da história. E os poderes de Sumé.
Fonte: EXTRA

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