“Depois que passei dos 60, parece que os anos estão correndo. Me vejo num mundo louco, rápido e cruel e tendo de me inspirar nele para fazer minha obra de arte”, ele explica no material de divulgação do CD. “Os fãs vinham cobrando um disco autoral, mas passei os últimos cinco anos refletindo sobre mudanças que ocorreram e fazendo músicas aos poucos”.
Ao longo desse período, Zé travou um longa batalha na justiça para poder gravar seus próprios sucessos. Ao lado de artistas como Roberto e Erasmo Carlos, brigou contra um grupo de editoras musicais que tentou aumentar as taxas cobradas das gravadoras para a utilização das músicas em CDs e DVDs. Moveu uma ação contra a editora EMI Songs – que fazia parte do grupo denominado Associação Brasileira dos Editores de Música (Abem) – e tentou rescindir os contratos através dos quais cedeu os direitos patrimoniais de suas canções.
Em 2005, ao lançar o CD e o DVD Ao Vivo, com que comemorava seus 30 anos de carreira, Zé teve os produtos tirados de circulação – apenas a primeira tiragem foi vendida. O cantor partiu, então, para uma série de homenagens a outros artistas, como Bob Dylan, Beatles, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, até conseguir a vitória nos tribunais.
Robertinho do Recife
“É um album para pessoas que estavam aguardando novas produções musicais minhas, sem maiores pretensões. É a continuidade do meu trabalho, minha leitura do mundo atual e minha maturidade como homem e compositor. É a vontade de continuar levando essa vida de shows, estúdio, gravações e de oferecer o que crio”, explica.
“Há uma crueldade em relação à máquina do mundo hoje em dia, com toda essa correria. Mas não deixo pra trás nada do que eu sou”, afirma. Inquietações filosóficas que volta e meia vão dar no tema da morte também permeiam o CD. Sobretudo em “Olhar alquimista”, em que ele canta: “Aonde me viram não mais verão os alquimistas e os anciões”. “A morte é uma coisa sobre a qual já comecei a pensar. Ela está também na primeira faixa, quando canto: ‘será que chegarei à terra prometida ou atravessarei o túnel de luz’. Não que eu me sinta perto de morrer, mas tenho uma curiosa especulação e penso muito nisso hoje em dia”, avalia.
Ao deixar de lado o caminho dos discos-tributo e voltar a produzir um CD de inéditas, Zé Ramalho muda para permanecer o mesmo: eloqüente e claro em seus enigmas.
SERVIÇO
Sinais dos tempos
O que: novo disco de Zé Ramalho. Avôhai Music, 12 faixas.
Produção: Robertinho do Recife
Outras informações: www.zeramalho.com
Saiba mais
O disco tem participações especiais dos guitarristas Jesse Robinson (EUA) e Rick Ferreira, além de Roberta de Recife, filha de Robertinho do Recife; e João Ramalho, filho de Zé Ramalho.
A parceria com Robertinho do Recife já dura 15 anos. E a Banda Z acompanha Zé Ramalhodesde os anos 80.
Drummond é citado na faixa “Lembranças do primeiro”, em que Zé Ramalho versa: “No meio do caminho há uma pedra./ Deixe-a, não a remova!”
A faixa ”O que ainda vai nascer” traz elementos psicodélicos e faz referência a “Beira Mar”, sucesso de Zé Ramalho lançado em 1979.
Fonte: Jornal O Povo / Fortaleza-CE, edição 18/07/2012
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